Téctéctéctéctéctéctéctéctéc...
"Porra, que barulho chato". Era isso que eu pensava enquanto ia pulando muitas questões da prova.
Pois é. Cheguei na escola onde o encontro foi marcado. Primeira etapa do processo de seleção para o intercâmbio. Minha mãe olhou para a representante.
- Só ela fica?
A mulher confirmou com a cabeça e minha mãe foi embora. SIM, ELA FOI.
Ok, estou tranquila.
Sentei numa poltrona e fiquei observando uma familia. O filho estava todo agitado, olhando documentos numa pasta. Opa! Documentos? Não sabia que era pra trazer documento nenhum...
- Vai pra onde?
A mãe do garoto começa a conversar comigo. Falamos sobre o intercâmbio, sobre a experiência que isso traria e todos os assuntos relativos a isso.
No meio da conversa, a representante avisa que a reunião vai começar.
Todas as familias e eu, numa sala de aula pequena, onde duas pessoas explicam o básico sobre a ong de intercâmbio. Opa, de novo! Por que todo mundo trouxe uma caneta? Droga, vim despreparada!
- Agora os pais vão ficar aqui conversando comigo enquanto os jovens vão fazer a prova na outra sala, ok?
PROVA? QUE PROVA?
Para minha sorte, um menino tinha uma caneta a mais. Droga, não sabia que eu ia ter que fazer uma prova !
A primeira parte é sobre conhecimentos gerais. Ó DEUS! téctéctéctéctéctéctéctéctéc...
"Porra, que barulho chato". Era isso que eu pensava enquanto ia pulando muitas questões da prova.
Qual é a capitão do Afeganistão?
Com quantos paus se faz uma jangada japonesa? COMO EU VOU SABER?
A segunda parte é uma redação: Quem é você e por que você quer fazer intercâmbio?
"Meu nome é Marina, tenho 15 anos e provavelmente não fui muito bem na parte I dessa prova...". Sim, esse foi só o começo. Imagine o resto da prova.
Agora é só multipla escolha, ok, eu consigo.
Quando acabei a prova, fiquei esperando a entrevista.
Depois de muita conversa jogada fora com um dos candidatos, chegou minha vez.
- Por que você acha que a AFS deve escolher você?
Eu queria gritar. Ah, como eu queria.
Por que eu? O que eu realmente tenho de especial? Nada. Eu sou comum. Me misturo na multidão.
Mas é claro que não foi isso que eu respondi.
No final da entrevista, quando eu achava que a minha agonia tinha acabado, eu comecei a conversar com um outro candidato.
- E ai, quantas capitais você respondeu?
- Ah, só deixei duas em branco. Respondi todo o resto.
Que merda. Me ferrei.
Só para que você saiba, a capital do Afeganistão é Cabul.
domingo, 18 de maio de 2008
domingo, 11 de maio de 2008
A todos que não foram e não ligaram
Bom, você não foi. E não ligou. A mim, só restou lamentar a sua falta de educação. Imaginando motivos possíveis. Será que você não foi porque realmente não pôde ou simplesmente não quis? Será que não ligou para não me magoar ou justamente o inverso disso?
Estou confusa, claro. Achava que você iria.
Tanto que eu aguardei sua chegada por mais minutos do que deveria, inventando desculpas esfarrapadas para mim mesma. O trânsito, o horário, a meteorologia. Qualquer pneu furado serviria. E até o último instante, juro, achei que você chegaria a qualquer momento. Pedindo perdão pelo terrível atraso. Perdão que você teria, junto com uma cara de quem está acostumada, e assim encerraríamos o assunto. Mas você não foi.
Esperei outro tanto pelo seu telefonema, com todas as esclarecedoras explicações. Para cada razão que houvesse, pensei numa excelente resposta. Para cada silêncio, num suspiro. Para cada sensatez de sua parte, numa loucura específica da minha.
Se você tivesse ligado do celular, eu seria fria. Se tivesse ligado do trabalho, seria levemente avoada. Se a ligação caísse, eu manteria a calma.
Foram muitos dias nessa tortura, então entenda que percorri todas as rotas de fuga. Cheguei a procurar notícias suas pelos jornais, pois só um obituário justificaria tamanha demora em uma ligação.
Enfim, por muito mais tempo do que desejaria, mantive na ponta da língua tudo o que eu devia te dizer, e tudo o que você merecia ouvir, e tudo. Mas você não ligou.
Mando esta carta, portanto, sem esperar resposta. Nem sequer espero mais por nada, em coisa alguma, nesta vida, para ser sincera. No que se refere a você, especialmente, porque o vazio do seu sumiço já me preenche; tenho nele um conforto que motivos não me trarão.
Não me responda, então, mesmo que deseje. Não quero um retorno; quis, um dia, uma ida. Que não aconteceu, assim deixemos para lá.
Estaria, entretanto, mentindo se não dissesse que, aqui dentro, ainda me corrói uma pequena curiosidade. Pois não é todo dia que uma pessoa não vai e não liga, é? As pessoas guardam esses grandes vacilos para momentos especiais, não guardam?
Então, eis a minha única curiosidade: você às vezes pensa nisso, como eu penso? Com um suave aperto no coração? Ou será que você foi apenas um idiota que esqueceu de ir?
(Fernanda Young)
Estou confusa, claro. Achava que você iria.
Tanto que eu aguardei sua chegada por mais minutos do que deveria, inventando desculpas esfarrapadas para mim mesma. O trânsito, o horário, a meteorologia. Qualquer pneu furado serviria. E até o último instante, juro, achei que você chegaria a qualquer momento. Pedindo perdão pelo terrível atraso. Perdão que você teria, junto com uma cara de quem está acostumada, e assim encerraríamos o assunto. Mas você não foi.
Esperei outro tanto pelo seu telefonema, com todas as esclarecedoras explicações. Para cada razão que houvesse, pensei numa excelente resposta. Para cada silêncio, num suspiro. Para cada sensatez de sua parte, numa loucura específica da minha.
Se você tivesse ligado do celular, eu seria fria. Se tivesse ligado do trabalho, seria levemente avoada. Se a ligação caísse, eu manteria a calma.
Foram muitos dias nessa tortura, então entenda que percorri todas as rotas de fuga. Cheguei a procurar notícias suas pelos jornais, pois só um obituário justificaria tamanha demora em uma ligação.
Enfim, por muito mais tempo do que desejaria, mantive na ponta da língua tudo o que eu devia te dizer, e tudo o que você merecia ouvir, e tudo. Mas você não ligou.
Mando esta carta, portanto, sem esperar resposta. Nem sequer espero mais por nada, em coisa alguma, nesta vida, para ser sincera. No que se refere a você, especialmente, porque o vazio do seu sumiço já me preenche; tenho nele um conforto que motivos não me trarão.
Não me responda, então, mesmo que deseje. Não quero um retorno; quis, um dia, uma ida. Que não aconteceu, assim deixemos para lá.
Estaria, entretanto, mentindo se não dissesse que, aqui dentro, ainda me corrói uma pequena curiosidade. Pois não é todo dia que uma pessoa não vai e não liga, é? As pessoas guardam esses grandes vacilos para momentos especiais, não guardam?
Então, eis a minha única curiosidade: você às vezes pensa nisso, como eu penso? Com um suave aperto no coração? Ou será que você foi apenas um idiota que esqueceu de ir?
(Fernanda Young)
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