sábado, 16 de agosto de 2008

Rua das Orquideas

Sabe tudo aquilo que você me falou antes? Eu quero ver você falar isso agora...
Lá estava eu, do alto do meu 1,92, me sentindo pequeno na sua frente.
Você mexeu no cabelo e eu pensei 'o-ou, aí tem coisa'. Quando você me olhou, eu sabia que você ia dizer 'A gente precisa conversar'.
- Eu preciso falar com você.
Droga, errei por pouco. Mas mesmo assim, ainda tinha alguma coisa errada.
Enquanto você respirava fundo, eu reparei como os seus olhos estavam escuros. Eles sempre escurecem quando você esta nervosa. Era sério.
Não sei quanto tempo fiquei tentando imaginar sobre o que seria aquela conversa e quando percebi, você estava olhando pra mim:
- No que você esta pensando?
- Eu estou exatamente tentando adivinhar o que você esta pensando.
- Acredite, você não ia querer saber.
- Eu sempre quero saber o que você esta pensando. As vezes, eu tenho até dor de cabeça só de imaginar que eu não consigo saber o que você esta pensando, por mais que eu tente.
Você abaixou a cabeça e colocou a mão na testa, em sinal de preocupação. Esse gesto, por mais simples que fosse, me deixou em estado de alerta.
- Você não devia dizer essas coisas...- sua voz falhou.
- Se você quiser, eu não falo.
Era sempre assim. Você falava, eu concordava. Era mais forte que eu.
- Você não enxerga, não é? Não percebe que isso aqui - você apontava para mim e de volta para seu próprio peito - faz mal pra você? Eu nunca achei que você ia levar essa história tão longe.
- Quando você diz "essa história", você não esta se referindo...? - Não terminei a frase. Não consegui.
- Nós dois. Isso aqui não vai parar em lugar nenhum e você sabe disso. Sabe que eu não sou pra você e que você não é pra mim.
Eu estava desesperado por dentro. Eu queria gritar, eu queria correr. Mas respirei fundo e fingi ter calma.
- Se você não é pra mim, então quem é?
- Alguém.
- Alguém quem?
- Só alguém. Alguém que você ainda nem conheceu ou quem sabe, alguém que você já conhece e nem faz idéia. Mas acredite, existe alguém.
- E você, como fica nisso tudo?
- Aqui, onde eu sempre estive. Não vai mudar nada.
- Claro que vai! Sempre muda. Nunca é a mesma coisa.
- É, você tem razão... Nunca é a mesma coisa. Mas, quem sabe, seja disso que a gente precise. De mudanças.
Naquele exato momento, eu podia ter simplismente ter ficado quieto. Eu fiz menção de ir embora, mas não consegui. Aquilo ainda não tinha acabado.
- Eu não quero mudar. Esta tudo do jeito que eu queria que fosse!
Você bufou, parecendo cansada de tudo aquilo.
- É isso que me irrita em você, sabia?
- Isso o que?
- Esse seu conformismo, essa sua mania de que esta tudo sempre bom do jeito que esta.
Abaxei a cabeça. Não esperava por essa.
- Não sabia que te encomodava.
Quando levantei a cabeça, você sorria pra mim. Tão pequena.. Você sempre foi tão pequena assim?
- Sabe, quando eu te conheci, tinha certeza de que, independente de qualquer coisa, eu te teria pra sempre na minha vida. E vice-versa.
Você ainda sorria pra mim enquanto eu te olhava confuso.
- E você acertou?
- Bom, eu ainda estou aqui, certo?



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qualquer semelhança é mera coincidência.